Freguesia de Trigaches | História
Em Trigaches se encontrou uma das pedras lavradas com ornatos visigodos, da colecção do Museu Regional de Beja.”
Orago: Nossa Senhora da Conceição.
População: 464 habitantes.
Área: 16,62 km²
Principais actividades económicas
A freguesia de Trigaches evoluiu bastante no que diz respeito ao desenvolvimento económico. As actividades laborais exercidas não diferem em muito das que eram praticadas no passado. Contudo, sofreram alterações no sentido de acompanhar o progresso e o mercado.
O sector primário é por excelência o que ocupa a maior percentagem de trabalhadores. Apesar de se verificar um decréscimo, a agricultura persiste e continua a cativar os habitantes que investem neste ramo muitas vezes incerto.
Os vastos campos de trigo são a imagem de marca da aldeia e o sustento de uma grande parte dos que aqui vivem.
Em parceria com a agricultura, a pecuária também tem o seu espaço nesta zona. É frequente avistar-se pequenos rebanhos de ovelha pelos campos, guardados pela típica figura do pastor alentejano.
A exploração de mármores é outra das actividades com grande tradição na freguesia. Apesar da pedreira ter encerrado há alguns anos, o trabalho em mármore ainda dá os seus frutos. São duas as oficinas que trabalham o mármore na localidade. A construção de bancadas e jazigos são alguns dos trabalhos produzidos nestas oficinas.
Para além do mármore, o ferro, o alumínio e o vidro, são trabalhados noutras oficinas existentes pela localidade. Tendo grande sucesso no mercado exterior. Todas estas oficinas empregam habitantes locais e também alguns habitantes de freguesias vizinhas, como o caso de S. Brissos e Beringel.
No sector do comércio parece ter havido uma estagnação, as mercearias continuam as mesmas, mantendo o mesmo sistema adoptado desde a sua abertura: balcões antigos, produtos raros e o "escudo" sempre na memória, são imagem de marca dos estabelecimentos comerciais da freguesia. Recentemente foi inaugurado um mini-mercado que engloba uma padaria, à semelhança de uma loja de retalhos, um projecto bastante arrojado na localidade.
A freguesia de Trigaches tem apenas à sua disposição dois cafés existentes desde há décadas, bastante frequentados e onde se realizam habitualmente os "famosos" petiscos, confeccionados pela gerência e que fazem as delícias dos que lá vão.
Recentemente a junta de freguesia de Trigaches criou uma Associação de Solidariedade Social, chamada "Os Amigos de Trigaches", que emprega habitantes da localidade em prol da freguesia.
Feiras, festas e romarias
Na freguesia, realizam-se festas em honra de Nossa Senhora da Conceição, a padroeira, no primeiro fim-de-semana de Agosto, com os festejos a decorrerem de sexta a segunda-feira.
As comemorações do 25 de Abril, dia da liberdade, englobam um animado almoço convívio com toda a população.
Fazem parte da memória dos mais velhos, os serões bem passados com os nossos cantares alentejanos. Actualmente, alguns grupos mantêm viva a tradição de cantar as " janeiras " pelas ruas as vésperas de Natal, de ano novo e de Reis.
Jogos e brinquedos tradicionais.
De acordo com os relatos dos mais velhos, o tradicional jogo da malha faz a delícia dos habitantes de Trigaches.
Património cultural e edificado
A chaminé, A igreja e o largo da igreja, A Bica, O Largo Pedro Soares, O Jardim, os Bancos, Os Tanques públicos, o moinho.
A chaminé: Em quase todas as casas da aldeia existe ainda a chaminé tradicional tendo como designação, chaminé de escuta. A chaminé situava-se na casa de fora, no prolongamento da parede exterior, a bater com a rua.
Outros tipos de chaminé, decorados com algum tipo de aperfeiçoamento em seus acabamentos, também fazem parte da arquitectura da aldeia.
Dizem os mais velhos que a chaminé era algo na casa que tinha que ser muito bem feito, para durar uma vida inteira, dando alegria a todos os membros da casa e muito calor humano.
Este tipo de chaminé é único no Alentejo e típico dos montes alentejanos. Quando se vivia no campo era necessário existir este tipo de chaminé que alertavam as pessoas para os ruidos vindos do exterior, daí o nome.
A igreja e o largo da Igreja: No centro de Trigaches existe o chamado largo da igreja. É provavelmente o local mais conhecido da localidade e aquele que funciona com o ponto de referência para aqueles que por aqui passam. É ponto de encontro para toda a população. Os mais velhos, logo pela manha procuram um local para se sentarem no mais concorrido banco de Trigaches. Enquanto por todo o largo se avistam pessoas que fazem as suas compras. É também aqui que funciona a paragem do autocarro.
A Bica: Onde se ia buscar a água para o governo doméstico. Possuía outras funções. Local de namoro, de convívio entre os habitantes da aldeia. Era um local muito frequentado pelos mais jovens e extremamente vigiado pelos mais velhos. Testemunhos hoje recordam o passado com uma certa nostalgia deste local, em que dizem entre lágrimas e suspiros "era aqui que íamos com as quartas buscar a água e sempre demorávamos mais um bocadinho a falar com as nossas amigas ou a namoriscar, foi aqui que conheci o meu marido e lhe dei uns beijos à "socapa".
O Largo Pedro Soares: Situado à saída de Trigaches, em direcção a Cuba, encontramos o Largo Pedro Soares. Ponto de encontro e convívio entre os mais novos. Está dotado de um pequeno jardim, onde podemos observar a estátua erguida a Pedro Soares, nascido na freguesia, ficou recordado como um revolucionário do 25 de Abril participando activamente na luta pela liberdade do povo. Tendo sido por isso, homenageado.
O Jardim: Situado na rua da praça, o jardim é um espaço relativamente recente. Noutros tempos este espaço era ocupado por um mercado ao ar livre com bancadas de pedra onde se vendiam os produtos, nomeadamente o peixe. Com o passar dos anos as pessoas deixaram de frequentar o mercado, da mesma forma que os vendedores que utilizavam o espaço o deixaram de frequentar. Depois de ter estado vários anos ao abandono, caiu em ruínas. Recentemente, resolveu-se aproveitar o espaço da melhor forma.
Os Bancos: Estes longos bancos de pedra foram construídos para que os habitantes pudessem descansar e conviver. E um local que dá pelo curioso nome de "chove não molha", uma clara alusão aos temas que aqui são abordados. Nas tardes de Verão os homens reúnem-se neste sítio, onde permanecem largas horas em conversa.
Os tanques públicos: Na saída de Trigaches, em direcção a Cub4 estão situados os tanques públicos foram mandados construir pela Câmara Municipal de Beja nos anos quarenta para que a população de Trigaches pudesse lavar as suas roupas. Recentemente estiveram encerrados devido a um problema nas bombas de água mas de momento já é possível fazer-se uso deles sempre que necessário.
O moinho: Os moinhos não são apenas um dos mais pitorescos adornos da paisagem. Eles são o sinal de progresso de outros tempos, a forma mais evoluída de fabricar farinhas alimentares. Com a modernização os moinhos foram sendo pouco a pouco postos de parte e extinguiram-se ao abandono. Avista-se num pequeno serro a escassos metros de Trigaches, o moinho outrora abandonado e em ruínas, mas que foi restaurado para habitação.
Este é um moinho de vento. Dentro das categorias do moinho de vento existem outras categorias que estão relacionadas com a disposição geográfica. O típico moinho português é característico dos moinhos mediterrâneos. Estes moinhos têm determinadas características:
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- Planta circular;
- Formato cilíndrico ou ligeiramente tronco-cónico;
- Rebocado e caiado de branco;
- Baixos e pequenos;
- Extremamente rústicos;
- Um piso acima do térreo.
No último piso está situada a engrenagem motora e, sob ela, as mós.
Antigamente o moinho tinha um eixo atravessado por quatro pares de varas que sustentavam quatro velas triangulares de pano. Este moinho, situado em Trigaches, quando foi restaurado também se voltaram a colocar as velas de pano.
Armas
Escudo de verde, faixa de prata lavrada de vermelho (como se fosse lanço de muralha) entre três gavelas de trigo de ouro, atadas de vermelho. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro, em maiúsculas: TRIGACHES..
Origem histórico lendária (Etimologia de Trigaches)
Pelos meados do século XVII, no remoto Alentejo, predominava o latifúndio, grandes extensões de terra (algumas mais férteis que outras). Enquanto umas se encontravam cultivadas, outras estavam em pousio.
Esta era uma época de muita fome e miséria as populações sofriam amargamente, mitigando por um bocadinho de pão. Conta-se que num dia quente e seco surgiu um rei com um exército poderoso, preparado ferozmente para conquistar estas terras. Travou-se uma batalha entre os poucos habitantes e o poderoso exército. De súbito ouviu-se uma voz por entre muitos gritos de aflição:
"Senhor, senhor trigo acho!!!, trigo acho!"
O rei ao ouvir tais palavras e por ter conseguido apropriar-se das terras permaneceu nas mesmas, cultivando-as para o seu próprio sustento e da sua aldeia. A terra era bastante produtiva em trigo e os campos pareciam verdadeiras mantas douradas. E assim, o nome de TRIGACHES foi dado àquelas terras.
História e actualidade
Trigaches pertence ao concelho de Beja e ocupa uma área de 16,62 Km2, na região do Baixo Alentejo. Delimitada pelas freguesias de Faro do Alentejo, Beringel e São Brissos, é uma freguesia de carácter essencialmente rural criada a 23 de Maio de 1988, data em que se tomou independente de Beringel.
O longo processo que culminou na elevação de Trigaches a freguesia começou a ser bem sucedido a partir de 19 de Novembro de 1987, data em que foi apresentado pelos deputados Maria de Lourdes Hespanhol, Manuel Filipe e Cláudio Percheiro, o projecto de lei que defendia a sua promoção nos seguintes termos:
"Trigaches, povoação do distrito e concelho de Beja, esta situada A 5 kms de Beringel. Aglomerado populacional em franco progresso. Trigaches deve o seu desenvolvimento à actividade agrícola e à indústria de extracção de mármore e caulino.
Trigaches tem ligações com Beringel, Beja e Faro do Alentejo e possui as infra-estruturas necessárias (no campo económico, social e cultural que justificam a sua passagem a freguesia. A constituição de uma comissão local que tem vindo à pugnar pela criação da freguesia permitiu dar corpo às aspirações das populações. Saliente-se que a nova freguesia reúne as condições requeridas pela lei n" 11/82, de 2 de Junho, nomeadamente, os indicadores geográficos, os indicadores demográficos, os indicadores económicos, os indicadores sociais e culturais (...). Pelas razões acima aduzidas e ponderadas os requisitos dos artigos 5 e 7 da lei n.º 11/82, de 2 de Junho, dando satisfação às justas pretensões populares, os deputados abaixo assinados, do grupo parlamentar do PCP. apresentam o seguinte projecto lei:
ARTIGO 1 – É criado no concelho de Beja a freguesia de Trigaches.
ARTIGO 2 - Os limites para a futura freguesia de Trigaches (...) são os seguintes: a norte, concelho de Cuba, freguesia de Faro do Alentejo. A sul, freguesia mãe (Beringel e ribeira do Álamo, a nascente, concelho de Beja, freguesia de São Brissos, e a poente, concelho de Ferreira do Alentejo, freguesia e Peroguarda e freguesia de Alfundão."
A continuação desta história é fácil de reconstituir, a aprovação pela Assembleia da Republica, e depois a promulgação do Presidente da Republica, seguida pela publicação no diário da Republica, e assim nasceu a freguesia de Trigaches.
No entanto, o passado da região é bem mais remoto e, infelizmente não é possível recuperar cada uma das suas diferentes fases, Todo o conhecimento reunido sobre os factos de antanho, em Trigaches, além dos vestígios arqueológicos ali encontrados, que documentam expressamente a presença das civilizações Visigóticas e romana, A este respeito, transcreve-se uma passagem das Notas Monográficas, que Abel Viana dedicou à freguesia de Trigaches:
"Em Trigaches se encontrou uma das pedras lavradas com ornatos Visigodos, da colecção do museu regional de Beja (...). Visigótico será porventura parte dos fragmentos de cerâmica grossa exumados em maior ou menor quantidade por toda aquela zona, sabido, como é, ser difícil, quando a esta espécie de achados separa romano do visigótico."